sexta-feira, 11 de novembro de 2011

PESADELO A QUANTO OBRIGAS


    Por Sandra Duarte Bobone

Em Portugal, na Assembleia da República, no Parlamento, tem sido hoje dia de discussão e dissertações sobre o OGE que crucificará ainda mais os portugueses de menores recursos e também os portugueses da classe média baixa, da classe média-média e média-alta. Os ricos não estão dispostos a pagar a crise e assim sendo não a vão pagar, independentemente de serem ou não causadores dessa mesma crise.

Assistimos no Parlamento de Portugal a verdadeiras diatribes sobre o sexo dos anjos entre os deputados dos partidos do arco do poder, até hoje exercido pelo PS, PSD e CDS, em vez de abordagens sérias e propostas reais de contenção de despesas a recair sobre os que também têm imensas responsabilidades no escoar dos bens públicos; os políticos, os gestores aliados a esses mesmos políticos, os assessores, etc., etc. Salientemos aqui que também os reformados da política, os deputados, estão englobados na afirmação anterior. Esses e mais uns quantos seus congéneres, que esta ou aquela razão lhes são associados de facto ou nas circunstâncias.

Na verdade o orçamento é um tratado e oficialização inconstitucional de esclavagismo para os trabalhadores portugueses, uma condenação à doença e à fome dos já reformados e de mais idade, um convite aos mais jovens para que se excluam do país, que emigrem – assim declarado abertamente pelo governo – um ataque às famílias, à sua estabilidade e educação dos seus filhos, um declarar de desprezo pelos direitos das crianças e seu saudável crescimento e formação. Há crianças que já hoje chegam às escolas e declaram não terem jantado após saírem das escolas, nem terem tomado o pequeno almoço nas suas casas. Ou seja, estão quase 24 horas sem uma refeição, restando-lhes o almoço limitado que algumas escolas lhes proporcionam gratuitamente através do SASE, Serviços de Ação Social Escolar.

Das medidas anunciadas e implícitas neste OGE, que será aprovado pela maioria partilhada entre PSD e CDS, não vimos contenção correspondente aos sacrifícios impostos aos portugueses sobre as reformas imorais de 10 mil euros e mais que muitos recebem por mês. Quem? Aníbal Cavaco Silva, por exemplo – a sua reforma ronda quantia de poucas dezenas de euros a perfazer menos de 10 mil. Uma medida de contenção a estes abusos deveria ser na ordem dos 50 por cento ou mais em redução. Deveria existir um teto máximo para as reformas mais altas e esse nunca deveria ser maior que os 4 mil euros. Qualquer reformado com essa quantia pode manter a sua vida com dignidade, sabendo-se que esses que imoralmente recebem reformas avultadas anteriormente e de momento acumularam e acumulam riqueza bastante para viverem como nababos.

Também os deputados reformados devem ver as suas reformas - e mordomias que para eles reservaram abusivamente - diminuídas a mais de metade, o mesmo para os ex-presidentes da república, ex-ministros e outros ex que como sanguessugas depauperam os bens públicos sem a menor vergonha.

A quantidade de deputados que existem no parlamento de Portugal é injustificado, um número mais reduzido seria o ideal, assim como a redução de 40 porcento daquilo que mensalmente auferem em ordenado estipulado e alcavalas que em muitos casos superam escandalosamente os vencimentos-base. Não se trata só de limitar as despesas da Assembleia da República, como o primeiro ministro Passo Coelho já referiu, mas sim de levar decência e moralidade àquilo que os deputados devem receber pelo seu trabalho em prol da democracia e do país. Mas essas medidas não são contempladas neste OGE, nem por sonhos Passos Coelho nem o seu governo, ou os partidos que lhe afetos e que detêm a maioria se lembram de levar àquela casa, a AR, a equidade, a justiça, a democracia. Nem em nome da crise porque afinal a crise é só para os portugueses que não fazem parte do mosaico político partidário afeto aos que detém ou detiveram o poder ao longo destas quase 4 décadas pós 1974. Se este governo – e outros anteriores – fosse honesto já teria tomado esse tipo de decisões e muitas outras mais que verdadeiramente pusessem termo às enormes injustiças que vitimam os portugueses em beneficio de uma minoria de verdadeiros sanguessugas. Sob o pretexto da crise Portugal adormecido está a reviver um verdadeiro pesadelo e a democracia já foi.

Sem dificuldade podemos concluir que este governo usa a mesma estratégia de todos os outros: os ricos não pagam a crise… nem os políticos, tecnocratas ou amigos dos partidos que detêm os poderes atuais. Por isso não há moralidade e aqueles que têm direito a comer são sempre os mesmos, só alguns. Todos os outros não comem mas pagam. A isto chama-se parasitarismo. E é grande, o que se instalou na política daqueles partidos e dos seus clientelismos. Um enorme pesadelo.

Temos portanto a perspetiva mais que certa de que muita miséria e fome vão vitimar os portugueses. Começou pelos que sofriam de maiores carências, que agora já são portugueses completamente famintos e sem teto e já se propaga a toda a velocidade aos se julgavam da classe média baixa e até à classe média-média. Os da média alta ainda não estão a sentir verdadeiramente a crise mas a partir de Janeiro decerto que a vão sentir, sem que por isso lhes caia as paredes na lama. Na lama já estão quase metade da população portuguesa e esses números irão aumentando significativamente a cada mês de 2012. O que se pode esperar de mais um governo que exclui alguns eleitos (por eles) para nem sequer sentirem o bafo da crise e ainda beneficiarem com ela se possível? E tem sido possível.

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