domingo, 12 de agosto de 2012

ZITA SEABRA SERVIDA DE IMAGINAÇÃO FÉRTIL NA CRESPOLÂNDIA



Por Bernardo Belo Cunha

Não faz sentido. Só um Crespo como Mário se empolgaria a trazer-nos televisivamente a lufada de ar condicionado a cheirar a esgoto gerada por Zita Seabra, uma ex-militante do PCP que há muitas décadas aderiu ao inverso daquilo que por muitos anos defendeu, o chamado proletariado, o povo e os seus direitos segundo a cartilha comunista de uma União Soviética cada vez mais decadente. Tão decadente nesse tempo quanto o capitalismo o está na atualidade. Mas Zita, talvez por uma questão de ganha-pão, lá aderiu à direita, que antes chamava revanchista, e entrou de supetão para deputada do PSD. Há muitos que pela tal questão de ganha-pão fazem tudo. Até trocam infernos vermelhos por os de outra cor, alaranjados, por exemplo – cor do PSD.

Não faz sentido. Instrumentos de escuta dentro de aparelhos de ar condicionado? Mas onde é que Zita tinha a cabeça? E Mário, o Crespo? Os equipamentos de ar condicionado fazem barulho, em princípio, logicamente, impossibilitando a escuta através de equipamento para esse fim. Para mais introduzido no seu interior. Para mais porque as ações de espionagem do PCP aconteceram há umas décadas, como afirma, e nesse tempo os aparelhos de ar condicionado produziam um ronronar que muitas vezes até nos incomodavam, muitas vezes até os desligávamos devido ao seu efeito poluidor da sonoridade produzida…

Zita, talvez inspirada no título “O Espião Que Saiu do Frio”, serviu, a quem a quis escutar, uma dose de imaginação fértil – na opinião de muitos. Interessante é aquilo que escreve Ferreira Fernandes, no Diário de Notícias, sobre o gélido acontecimento televisivo de Crespo. Curto, incisivo, irónico, não deixou passar a imaginação fértil de Zita sem recordar que “Aparelhos de escuta usam-se em floreiras, relógios, botões, lamparinas e o agente Olho Vivo até num sapato.” Deliciem-se.

A Zita que saiu do ar condicionado


Zita Seabra, em conversa com Mário Crespo, na SIC, sugeriu que o PCP e a RDA (Alemanha comunista) usavam os aparelhos de ar condicionado da empresa portuguesa FNAC (ligada nos anos 70 e 80 ao PCP) para espiar. E quando Crespo explicita "equipamentos de escuta...", ela confirmou: "Em tudo o que era ministérios, em sítios nevrálgicos." Ela lembrou que era frequente entre comunistas "brincar-se, dizendo em que gabinete estará aquele ar condicionado..." Zita foi dirigente do PCP e aquilo que se sabe da RDA em matéria de espionagem dá crédito mesmo a hipóteses absurdas. Mas ficam-me algumas dúvidas. Zita Seabra saiu do PCP em janeiro de 1989 e só em outubro de 1990 a RDA acabou. Nesse intervalo de ano e meio a já democrata Zita informou o País do perigo que corria? Ao que parece não disse nada porque PS, PSD e CDS, todos com gabinetes potencialmente escutados e nenhum meigo com o PCP, não tiraram partido do escândalo. Então, porque calou, Zita? O que me leva a outra dúvida: microfones em aparelhos de ar condicionado? Aparelhos de escuta usam-se em floreiras, relógios, botões, lamparinas e o agente Olho Vivo até num sapato. Tudo objetos silenciosos. Em ar condicionado? Hmmm, as suspeitas aprofundam-se: uma vez comunista, comunista toda a vida... Será que Zita é uma agente adormecida e, mais forte do que ela, aproveitou a ida ao Crespo para fazer propaganda aos aparelhos comunistas da FNAC, os mais silenciosos do mercado capitalista?


Sem comentários: